Praça São Pedro

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Programa Viva em Verdade

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A verdade: eu menti.



A verdade: eu menti.

Escrito por Mirian Macedo | 17 Novembro 2011
Original: Artigos - Desinformação - Mídia sem Máscara

Vaidade e mau-caratismo puros, só isto. Nós saímos com a aura de hérois e a ditadura com a marca da violência e arbítrio. Era mentira? Era, mas, para um revolucionário comunista, a verdade é um conceito burguês, Lênin já tinha nos ensinado o que fazer.
Eu, de minha parte, vou dar uma contribuição à Comissão da Verdade. Fui uma subversivazinha medíocre, mal fui aliciada e já caí, com as mãos cheias de material comprometedor. Não tive nem o cuidado de esconder os jornais da organização clandestina a que eu pertencia, eles estavam no meio dos livros de uma estante, daquelas improvisadas, de tijolos e tábuas, que existia em todas as repúblicas de estudantes, em Brasília naquele ano de 1973.
Já contei o que eu fazia (quase nada). A minha verdadeira ação revolucionária foi outra, esta sim, competente, profícua, sistemática: MENTI DESCARADAMENTE DURANTE 30 ANOS!
Repeti e escrevi a mentira de que tinha tomado choques elétricos (poucos, é verdade), que me interrogaram com luzes fortes, que me ameaçaram de estupro quando voltava à noite dos interrogatórios no DOI-CODI para o PIC e que eu ficavam ouvindo "gritos assombrosos" de outros presos sendo torturados (aconteceu uma única vez, por pouquíssimos segundos: ouvi gritos e alguém me disse que era minha irmã sendo torturada. Os gritos cessaram - achei, depois, que fosse gravação - e minha irmã, que também tinha sido presa, não teve um único fio de cabelo tocado).
Eu menti dizendo que meus 'algozes' diversas vezes se divertiam jogando-me escada abaixo, e, quando eu achava que ia rolar pelos degraus, alguém me amparava (inventei um 'trauma de escadas", imagina). A verdade: certa vez, ao descer as escadas até a garagem no subsolo, alguém me desequilibrou e outro me segurou, antes que eu caísse.
Quanto aos 'empurrões' de que eu fui alvo durante os dias de prisão, não houve violência nem chegaram a machucar; nada mais que um gesto irritado de um dos inquisidores, eu os levava à loucura, com meu 'enrolation'. Sou rápida no raciocínio, sei manipular as palavras, domino a arte de florear o discurso. Um deles repetia sempre: "Você é muito inteligente. Já contou o pré-primário. Agora, senta e escreve o resto".

Quem, durante todos estes anos, tenha me ouvido relatar aqueles dias em que estive presa, tinha o dever de carimbar a minha testa com a marca de "vítima da repressão". A impressão, pelo relato, é de que aquilo deve ter sido um calvário tão doloroso que valeria uma nota preta hoje, os beneficiados com as indenizações da Comissão da Anistia sabem do que eu estou falando.
Ma va! Torturada?! Eu?! As palmadas que dei na bunda de meus filhos podem ser consideradas 'tortura inumana' se comparadas ao que (não) sofri nas mãos dos agentes do DOI-CODI.
Que teve gente que padeceu, é claro que teve. Mas alguém acha que todos nós que saíamos da cadeia contando que tínhamos sido 'barbaramente torturados' falávamos a verdade?
Não, não é verdade. Noventa e nove por cento das 'barbaridades e torturas' eram pura mentira! Por Deus, nós sabemos disto! Ninguém apresentava a marca de um beliscão no corpo. Éramos 'barbaramente torturados' e ninguém tinha uma única mancha roxa para mostrar! Sei, técnica do torturadores. Não, técnica de 'torturado', ou seja, mentira.
Mário Lago, comunista até a morte, ensinava: "quando sair da cadeia, diga que foi torturado. Sempre." A pior coisa que podia nos acontecer naqueles "anos de chumbo" era não ser preso. Como assim, todo mundo ia preso e nós não? Ser preso dava currículo, demonstrava que éramos da pesada, revolucionários perigosos, ameaça ao regime, comunistas de verdade! Sair dizendo que tínhamos apanhado, então! Mártires, heróis, cabras bons.
Vaidade e mau-caratismo puros, só isto. Nós saímos com a aura de hérois e a ditadura com a marca da violência e arbítrio. Era mentira? Era, mas, para um revolucionário comunista, a verdade é um conceito burguês, Lênin já tinha nos ensinado o que fazer.
E o que era melhor: dizer que tínhamos sido torturados escondia as patifarias e 'amarelões' que nos acometiam quando ficávamos cara a cara com os "ômi". Com esta raia miúda que nós éramos, não precisava bater. Era só ameaçar, a gente abria o bico rapidinho.
Quando um dia perguntaram-me  se eu queria conhecer a 'marieta', pensei que fosse uma torturadora braba. Mas era choque elétrico (parece que 'marieta' era uma corruptela de 'maritaca' (nome que se dava à maquininha que rodava e dava choque elétrico). Eu não a quis conhecer.
Relembrar estes fatos está sendo frutífero. Criei coragem e comecei a ler um livro que tenho desde 2009 (é mais um que eu ainda não tinha lido): "A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça", escrito pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra. Editora Ser, publicado em 2007. Serão quase 600 páginas de 'verdade sufocada"? Vou conferir.

Mirian Macedo é jornalista.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Bento XVI: Não precisamos imitar os pentecostais.

  
Publicação Original: fratresinum.com
Data: 18/nov/2011
Bento XVI: Não precisamos imitar os pentecostais.
“Uma liturgia participativa é importante, mas uma que não seja sentimental”.
O Papa Bento XVI inicia hoje uma viagem apostólica de dois dias ao Benim, África. Durante o vôo, o Santo Padre respondeu às tradicionais perguntas dos jornalistas presentes em sua delegação. Entre elas, uma a respeito do crescimento das seitas pentecostais no continente africano: Essas comunidades são um fenômeno global, em todos os continentes. Naturalmente, elas estão presentes sobretudo, de formas diferentes, na América Latina e na África. Diria que seus elementos característicos são muito pouca “institucionalidade” e poucas instituições, dando pouco peso a instituições; uma mensagem que é simples, fácil e compreensível, e aparentemente concreta; e, como você disse, uma liturgia participativa expressando os sentimentos da cultura local, com uma abordagem da religião um tanto sincretista. Tudo isso lhes garante, por um lado, algum sucesso, mas também implica uma falta de estabilidade. Sabemos que alguns [seguidores desses grupos] voltam à Igreja Católica, ou se mudam de uma dessas comunidades para outra.
Então, nós não precisamos imitar essas comunidades, mas devemos nos perguntar o que podemos fazer para dar nova vida à fé Católica. Eu sugeriria, como um primeiro ponto, uma mensagem que é simples e compreensível, mas também profunda. [...]
Segundo, é importante que nossas instituições não sejam pesadas. O que deve predominar é a iniciativa da comunidade e da pessoa. Finalmente, eu diria que uma liturgia participativa é importante, mas uma que não seja sentimental. A liturgia não deve ser simplesmente uma expressão de sentimentos, mas deve emergir a presença e o mistério de Deus no qual ele entra e pelo qual nós nos permitimos ser formados.
Por último, com relação à inculturação, diria que é importante não perdermos a universalidade. Eu preferiria falar de “inter-culturação”, não tanto inculturação. É uma questão de um encontro entre culturas na verdade comum de nossos seres enquanto humanos, em nosso tempo. Então, crescemos numa fraternidade universal. Não devemos perder essa grande coisa que é a catolicidade, de que em todas as partes do mundo somos irmãos e irmãs, somos uma família, onde conhecemos cada um e colaboramos num espírito de fraternidade.
A introdução ao missal das celebrações pontificias (pág. 11) demonstra como Bento XVI pretende enfatizar essa catolicidade, particularmente na liturgia da Santa Missa a ser celebrada no domingo, no Estádio da Amizade:
Neste grande dia de encontro eucarístico do Santo Padre com toda a África múltipla em seus costumes e em suas línguas, não hesitamos em empregar a língüa da Igreja Universal, o latim, que tem a vantagem de unificar a oração de nossa assembléia tão diversificada e de manifestar assim a união das vozes e dos corações no canto gregoriano (Missa de Angelis) e na escolha do cânon romano (Oração Eucarística I).


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O método Gramscista do ENEM


Publicação Original: http://www.puggina.org/
Data: 06/11/11 ZERO HORA












E ENTÃO COMO É QUE É?

PERCIVAL PUGGINA


A fábula da rã que se deixa cozer viva, passivamente, em uma panela de água fria que vai ficando morna, depois quente e, por fim ferve, é perfeitamente aplicável a inúmeras estratégias em curso no país. Se, em vez de avançarem aos poucos, seus condutores saltassem etapas e nos jogassem diretamente onde desejam nos levar, haveria resistência social e os projetos fracassariam. Estão nos cozinhando em fogo baixo.

Muito se tem escrito sobre o ENEM, esse mastodonte que iniciou como uma avaliação de desempenho do Ensino Médio no país e que, com raras exceções, virou monstruosidade ainda maior - prova de seleção para ingresso nos estabelecimentos de Ensino Superior. Por quê? Porque alguns pedagogos, afinados com o poder político estabelecido, decidiram que era assim que tinha que ser. Já escrevi que quando o "coletivo" aparece com uma ideia, por extravagante que seja, ela acabará prevalente. Não vou discutir, aqui, os aspectos pedagógicos nem as onerosas trapalhadas em que se tem envolvido o tal provão do MEC. Detenho-me sobre uma pauta que não pode transitar sem ser denunciada em vista de seu significado para a democracia.

A forma federativa de Estado, constitucionalizada no Brasil desde a Proclamação da República, corresponde ao importantíssimo princípio da Subsidiariedade, que ordena competências em níveis superpostos, de tal modo que cada nível só age se o nível que lhe é inferior não puder cumprir bem suas atribuições. Esse princípio, que preserva, na base, a iniciativa dos indivíduos e, logo acima, a iniciativa das comunidades locais, e assim sucessivamente, tem óbvias aplicações no campo da Administração, do Direito, da Política e da Ética. Pois eis que, ao conjunto de ações centralizadoras já adotadas no Brasil, sempre pelo reverso desse respeitável princípio, soma-se agora o ENEM, como nova intromissão/cessão de autonomia em favor da União. Num país do tamanho do Brasil, as vagas nos estabelecimentos de Ensino Superior tornam-se disputadas nacionalmente, com estudantes transferindo-se de Garanhuns para Santana do Livramento e vice-versa, como se estivessem tomando lotação para ir ao colégio. Absurdo!

O sistema sempre foi descentralizado, regionalizado e, por fim, como convém, foi se municipalizando. Os investimentos que proporcionaram a maior parte dessas instituições de ensino resultaram de esforço, poupança ou pleitos locais. O provão nacional é uma cessão de autonomia no controle da porta de entrada do Ensino Superior!

Li todo o Caderno Amarelo aplicado este ano. Para quem está afeito às relações entre a linguagem e a política fica fácil perceber, em algumas questões, o emprego gramsciano do vocabulário e o uso da prova como instrumento de doutrinação e construção da hegemonia política. A centralização serve para muitos males, inclusive para esse específico mal. Serve para a submissão de Estados e municípios. Serve para a cooptação de maiorias parlamentares. Serve para afastar a sociedade de decisões ditas participativas pelo envolvimento de grupos sociais devidamente aparelhados. Serve para a corrupção. Serve, esplendidamente, para o uso da rede de ensino como instrumento de doutrinação (vide livros do MEC!). E, porque tem sido assim, em tudo e com tudo, também esse ENEM vai a serviço dos mesmos instrumentos de centralização e hegemonia.

Enquanto a panela aquece para as festas do poder, canta-se como em outras comemorações: "Para a União não vai nada? Tudo! Então como é que é? É big, é big, é big, big, big." Pobre federalismo brasileiro.


06/11/2011