Praça São Pedro

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Programa Viva em Verdade

sábado, 17 de março de 2012

Quando o interesse de poucos gera distorção e desqualificação do direito de muitos

Quando o interesse de poucos gera distorção
e desqualificação do direito de muitos

A poucos dias vimos nos meios de mídia de massa a notícia que nosso judiciário gaúcho ordenou a retirada dos crucifixos das repartições e espaços públicos, isso devido a solicitação de uma pequena parcela da sociedade que sentia-se desrespeitada pelos objetos. Não quero aqui questionar os motivos de seus descontentamentos pela exposição publica dos símbolos religiosos, porque cada um tem direito em sua humanidade de sentir seja qual for o sentimento que brote em seus interiores, mas questiono, o que representa mesmo os crucifixos nestes espaços?
Se observarmos os madeiros pelo prisma religioso, pode-se ter a sensação que ele privilegia somente os cristãos, mas se olharmos sua representatividade como mensagem podemos descobrir muito mais, vamos a eles então:

1.      A pessoa de Cristo representada por ele é símbolo histórico gaúcho, lembra uma época em que existia um ligação entre Igreja e Estado e retirá-los pode significar o desejo de desligar-se com esse período histórico, sendo que, a constituição Brasileira é clara em dar direito a livre manifestação religiosa e ainda a existência da Laicidade do Estado. Essa característica constitucional de Estado laico, já é por si só uma característica de um Estado que manifesta e autoriza a religiosidade, por o termo leigo é inicialmente e originalmente termo religioso e não ateu. Qual seria a dificuldade de entendermos que a maioria da população gaucha e brasileira é religiosa e não ateu, por isso o termo laico não foi trocado por ateu, ou “areligioso” na constituição.
2.      A cruz lembra um sinal de moralidade, lembra um referencial de sacrifício de um para o bem de todos, lembra virtudes das quais fomos todos oriundos, pois espelhar-se em Cristo, mesmo que não crendo nele como Deus, é seguir os passos de alguém que tem consenso público como um bom homem, como honesto, como caridoso e isso é inquestionável aos nossos olhos, como podemos então perder esse referencial em nossos espaços públicos? Onde então, estará os olhos dos nossos juízes e representantes políticos? Pois, sem uma boa referência de índole e moralidade corre-se o risco de se espelhar em símbolos patriotas ou positivistas que são por si só incompletos quando se discute sobre necessidades humanas, realidades que se orientam desde a infância em alvos como os crucifixos.
3.      A cruz também lembra a atitude injusta de um complô de pequenos e barulhentos descontentes fariseus da idade antiga contra um homem que pregava a libertação de um povo subjulgado por imperadores e organizações sociais onde o pobre, o doente e as mulheres não tinham vez. Tal complô deu tão certo que Jesus de Nazaré foi morto injustamente em uma tentativa de calar possíveis conquistas sociais e mudanças no sistema de comercio em torno do templo. Se não me engano, lembrar de mortos injustamente por um regime opressivo é de grande valia para qualquer sociedade, vai e volta nós queremos lembrar da ditadura que motou a tantos, dos mortos por batalhas por espaço em sociedades racistas e por que não também lembrar da morte de Cristo e sua Cruz.
4.      Por fim, ter a Cruz em espaços públicos abre espaço para a manifestação de religiosidade nestes espaços, já que todos somos indivíduos por essência espirituais e não nos podemos dissociar desta condição, sobre pena de perdermo-nos parte de nós mesmos e sentirmo-nos incompletos. Quando são retirados símbolos religiosos de espaços públicos são também fechadas asa portas para a livre manifestação de religiosidade e isso fecha o raciocínio e a compreensão da totalidade humana que estes ambientes precisam para entender do público e das causas que estão defendendo e decidindo, além de dar clara mensagem ao povo que estamos proibindo aos poucos a religiosidade.
É fato que a decisão de retirada dos crucifixos tem mais pontos negativos para a sociedade gaúcha, considera que a solicitação de um grupo pequeno é maior e mais importante do que toda o resto da população que não foi nem perguntada sobre o assunto.
      Tal decisão desconsidera a população e a oprime pelo desejo de poucos, indicando como as coisas são feitas nos judiciários e assembléias. Arrisco dizer que, daqui a pouco estaremos todos perdendo a condição de nos apresentarmos como religiosos, ou falarmos de nossas convicções, opiniões e práticas sobre qualquer tema que desconforte uma minoria articulada.
      Perdemos um princípio básico de direito sobre o qual estamos organizados e rege toda a política na sua forma correta de se realizar, perdemos o bem Comum, meus pêsames a todos!

Vinícius Elias
Fisioterapeuta e pensador social
Consagrado da comunidade Paz e Mel 

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