Praça São Pedro

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Programa Viva em Verdade

sábado, 13 de agosto de 2011

Teologia do Corpo e Liturgia Parte 2

Autor: Francisco Dockhorn
Colaborador do Viva em Verdade
Publicação Original: Nov. 2010
Transcrição: Bethânia Bittencourt

6.    Entre dois casamentos
O que João Paulo II fala na Teologia do corpo?  Daqui a pouco vocês vão entender qual é a relação que tudo isso tem com a Liturgia da Igreja.
Princípio básico da Teologia do corpo, quem: toda a Bíblia acontece entre dois casamentos. Na primeira página do Gênesis existe um casamento; na última página do Apocalipse existe outro casamento. Qual é o casamento que está na primeira página do Gênesis? O casamento entre o homem e a mulher, na figura de Adão e Eva; esse é o casamento que tá no começo da Bíblia. No final da Bíblia existe outro casamento. Que casamento é esse? É o casamento entre Cristo e a Igreja. Toda a Bíblia acontece entre esses dois casamentos. O casamento entra Adão e Eva no começo e o casamento entre Cristo e a Igreja no final dos tempos. Um casamento é a imagem, o outro casamento é a realidade.
Vamos entender essa diferença entre imagem e realidade. Depois vocês vão ver também qual o sentido que isso faz quando nós falamos da Liturgia. Qual a diferença entre imagem e realidade?
A imagem expressa algo da realidade. Ela não chega a ser tudo aquilo que a realidade é, mas ela expressa algo. Sempre a realidade é mais além do que é a imagem, mais profunda do que é a imagem.
Assim, o casamento na terra, isso o Papa João Paulo II fala, a união carnal entre o homem e a mulher aqui na terra, é apenas uma imagem de uma realidade muito maior, de uma realidade muito mais plena, de uma realidade muito mais perfeita que vai acontecer no final dos tempos entre Cristo e a Igreja no Céu.
Pense um pouquinho em casamento: uma realidade muito presente na nossa faixa etária hoje - cada vez mais tarde, pois na época dos nossos pais casava-se mais cedo, agora se está se casando por volta de 30 anos; daqui a pouco estarão se casando com 40 e poucos anos, porque a coisa está cada vez mais pra frente -;  mas o casamento é uma realidade muito presente na nossa faixa etária.
Estão pensando em casamento? Vocês provavelmente estão pensando coisas boas do casamento, e também problemas do casamento. Porque o casamento também tem problema, casamento também tem dificuldade. Não adianta a pessoa casar pensando que vai ter todos os seus problemas resolvidos, que vai ser o Céu na terra....não! O casamento não é a solução mágica de todos os problemas, pois ele também tem suas dificuldades.
Mas procure imaginar, por um momento, um casamento sem problemas, sem dificuldades, e pense em tudo de bom que um casamento aqui na terra pode oferecer. Pense num casamento “cor-de-rosa”, “Alice-no-País-das-Maravilhas”, só o bom, só as coisas boas.
Deixa eu dizer pra vocês: o melhor casamento na terra é apenas uma imagem em comparação à realidade melhor e à realidade perfeita que a gente vai viver no céu. Isso é Teologia do corpo. Aquilo de melhor, aquilo de mais perfeito, aquilo de mais belo, aquilo de melhor que pode haver em um casamento aqui na terra é apenas uma imagem, é apenas o 0,00001% da maravilha que vai ser o Céu, que vai ser pra nós o Céu, que vai ser a felicidade no Céu e que vai ser a união entre Cristo e a Igreja no Céu.
Estão percebendo que estamos falando aqui de dois casamentos? Um é a imagem, o outro é a realidade.

7. Solidão que aponta para o Céu
Na criação do homem, no primeiro capítulo do Gênesis. Deus criou, a Bíblia nos mostra que Deus foi criando o  céu, foi criando a terra, a luz, as águas. Deus fez os animais selvagens, segundo a sua espécie. Criou o céu, a terra, os animais, os cachorros, os patos, criou tudo.
E como é que termina o versículo 25? Deus criou tudo e viu que era bom. Mas há um belo momento em que esse discurso de Deus ver que “a coisa é boa” muda. No capítulo 2, no versículo 18, há uma coisa que Deus diz que não é bom: “Não é bom que o homem esteja só”.
Vemos então que o discurso de Deus muda: Deus vai criando tudo e dizendo “é bom”: a luz é boa, os animais é são bons, o céu é bom, a terra é boa, o mar é bom, tudo é bom, o ser humano é bom, o ser humano é mais que bom, porque o ser humano é a glória da criação de Deus... Mas chega em um ponto que há uma ruptura: “isso não é bom”. O que que não é bom? Não é bom que o homem esteja só.
O corpo do homem e o corpo da mulher nos falam isso. O nosso corpo nos fala que nós somos incompletos. O corpo do homem não tem sentido sem o corpo da mulher. Estão entendendo o que eu estou falando? Precisa desenhar? O corpo do homem não tem sentido sem o corpo da mulher, e o corpo da mulher também não tem sentido sem o corpo do homem. O corpo da mulher também não tem sentido sem o corpo do homem. E mesmo o corpo de um homem ou de uma mulher, celibatário ou celibatária. O corpo, por exemplo, do Padre Paulo Ricardo, que é celibatário e sacerdote, não tem sentido sem o corpo da uma mulher.
O homem foi feito pra mulher, e a mulher foi feita para o homem.  O nosso corpo, é incompleto. Existe no ser humano, e aí é que está a questão da incompletude: existe uma solidão original. E é muito interessante quando Deus fala isso, no versículo 18: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada”.
Essa solidão origina aparece antes ou depois do pecado original? Isso é antes! Vejam, o pecado ainda não tinha acontecido, mas já havia uma carência no coração do homem antes do pecado original. Então, existe no homem uma solidão originária - e isso João Paulo II fala-, uma solidão originária que mostra que somos incompletos. Não só o nosso corpo mostro isso, mas também a nossa alma, os nossos sentimentos mostram isso.
E aí está a questão da imagem e da realidade: aqui na terra é só imagem; lá no Céu, vai ser a realidade. A união entre o homem e a mulher, que é algo da natureza, e que, de alguma forma, preenche o homem e preenche a mulher...de alguma forma.
Estão entendendo? O ser humano nunca vai se realizar plenamente num casamento, se ele buscar toda a realização dele no casamento.
Por exemplo, a mulher que olha para o marido e fala: “Eu não sou feliz por sua culpa”! Está havendo aí uma espécie de idolatria. Por que? Porque essa felicidade completa que ela busca não é o marido que vai dar, e pobre do marido se a mulher for esperar isso dele! A mulher que espera que seu marido faça da vida dela um Céu, não vai encontrar esse marido nem aqui, nem no Japão! Por que? Porque só Deus pode nos preencher totalmente.
E o mesmo vale para os homens Se o homem pensa: “A minha vida está um lixo, mas quando eu arrumar uma mulher decente, ah, aí, a minha vida vai se transformar, aí a água da minha vida vai virar o vinho...”  Doce ilusão.
Aquele que tenta fazer aqui na terra o Céu, só consegue fazer daqui o inferno, porque o Céu não é aqui, o Céu é lá! Essa atitude cria um inferno no casamento. Por que? Porque um vai começar a brigar com o outro, e dizer: “eu não sou feliz por sua culpa”, “eu me casei pensando que fosse viver o céu aqui na terra e não estou vivendo por sua culpa”.
Meu irmão, você não vai viver o Céu aqui na terra. Por que? Porque aqui na terra é imagem, a realidade vem depois.
Então, o ser humano que tem essa solidão originária, não é no matrimônio que ele vai conseguir isso de maneira completa, de maneira total, de maneira perfeita. Vai ser no Céu.
O ser humano tem essa sede de Deus, essa necessidade de Deus. Chesterton, o acontecimento Chesterton, fala que por trás de todo homem que bate na porta de um bordel, está um homem que procura Deus. Por que? Porque Deus é a sede mais profunda do ser humano.  Essa é a solidão originária, essa é a incompletude do ser humano que o nosso corpo mostra, que os nossos sentimentos mostram. Por trás de todo homem que bate na porta de um bordel, está um homem que procura Deus.
Agora vou lançar uma frase de autoria de Francisco Dockhorn: por trás de toda mulher que não sabe o que quer, está uma mulher que procura Deus.
Porque muitas vezes – vamos combinar! - a mulher não sabe o que quer. Primeiro ela quer um namorado, achando que vai resolver a vida dela. Aí arruma um namorado, mas pensa: “eu quero um namorado de tal jeito”.  Aí o namorado vai lá, começa a fazer tudo o que ela quer, faz academia para começar a agradar a mulher...  Quando ele está bombado, ela pensa: “Não, não...eu não quero só um namorado assim,  eu quero que ele também dirija.” Daí o cara vai lá, tira a carteira, fica bombadão, se casa...e ela pensa: “Não, não, mas eu quero que ele também tenha uma estabilidade melhor pra ele me dar mais segurança.” Daí o cara vai lá, trabalha pra burro, não faz mais nada, não vai nem na Missa mais pra trabalhar pra agradar a mulher, consegue dar tudo o que ela quer, ela vai todo final de semana no shopping comprar roupa nova, tem toda a estabilidade de vida que ela quer, mas pensa: “Não não, eu acho que ele tem que ser mais carinhoso com os filhos.”
Ou seja, o que a mulher quer afinal de contas meu Deus do céu? O que vocês mulheres querem? Deixa eu dizer pra vocês: o que vocês querem é Deus. Por trás de toda mulher que não sabe o que quer, está uma mulher que deseja Deus.
Isso nosso corpo nos mostra: o nosso corpo, que é incompleto, nos mostra que nós temos essa necessidade profunda, este desejo profundo de Deus.

8. Amor de Deus e Amor Humano
O Catecismo da Igreja Católica nos fala essa  verdade de fé, que todos nós já ouvimos, milhares de vezes: o ser humano foi criado a imagem e semelhança de Deus.
Mas como assim? O que significa ser imagem e semelhança de Deus da maneira plena?
Aí João Paulo II fala: não é o homem que foi criado à imagem e semelhança de Deus; é o homem e a mulher que são à imagem e semelhança de Deus. Vamos ser mais claros: é o homem com a mulher que vão ser a imagem e semelhança de Deus.
Por quê? O que Deus é?  Vamos recorrer à Teologia Joanina: Deus é amor.
O que o Amor de Deus é? O Amor de Deus é, primeiro, um amor livre. O amor humano aqui na terra é chamado a ser também um amor livre, tanto que a Igreja nem reconhece canonicamente um casamento onde não há liberdade.  Se eu obrigar você: “Casa com ela, senão eu vou matar a sua família”, esse casamento não vai ser válido.  Por que? Porque não vai estar havendo aí uma liberdade. O amor humano é chamado a ser a imagem do amor de Deus. É chamado a ser imagem do amor livre, porque o amor de Deus é um amor livre.
É chamado a ser também um amor fecundo, porque o amor de Deu é fecundo. O que o Amor de Deus gera? O amor de Deus gera vida. É um amor fecundo. O Amor de Deus é Comunhão.
Olhamos para a Comunhão da Santíssima Trindade. O Pai que ama o Filho, o Filho que ama o Pai, e do Amor do Pai e do Filho, surge o Espírito Santo, que é uma Terceira Pessoa, que é Amor, o Amor entre o Pai e o Filho.
Assim, Deus já era Comunhão, assim como o ser humano é chamado a reproduzir, como imagem, a Comunhão de Deus no seu casamento aqui na terra.
Mas Deus, mesmo já se bastando a si mesmo, resolveu criar o homem. Então, o Amor de Deus é um amor fecundo, é um amor que gera vida, e por isso, o amor humano no casamento, no matrimônio, é chamado a gerar vida.
Alguém me disse hoje que tem 13 irmãos: isso é imagem do amor fecundo de Deus. Não se assustem, não estuo dizendo aqui que ninguém vai ser obrigado a ter 13 filhos, pois claro que que isso vai depender de uma série de coisas... mas isso é imagem do amor fecundo de Deus. O Catecismo da Igreja Católica diz que a Igreja valoriza as famílias numerosas. Isso é Teologia do corpo: Deus olha para o homem e para a mulher, para os seus corpos, e diz: “Crescei e multiplicai-vos.”
Se eu estou tendo um filho, eu não estou multiplicando: eu estou dividindo. Se um casal está tendo dois filhos, eu não estou multiplicando: eu estou  continuando igual. É claro que ninguém vai fazer essa interpretação fundamentalista da coisa e tomar isso tão ao pé da letra assim. Eu só estou tentando fazer nós refletirmos um pouco em relação a isso que a Igreja valoriza: as famílias numerosas.
Isso é Teologia do corpo: o amor humano é chamado a ser esse amor fecundo, esse amor livre, como é o amor de Deus; esse amor fiel, como o amor de Deus; e esse amor total, como o amor de Deus.
Pois o Amor de Deus pela Igreja é um amor total. Ele não entregou uma gotinha do Seu Sangue, Ele não entregou um pedacinho do Seu Corpo...não! Ele se entregou inteiro, Ele se consumiu por amor à Igreja em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, e isso é Liturgia, onde Cristo se dá inteiramente a nós, na Hóstia Consagrada.
Então, o amor humano é chamado a ser esse amor total, e por isso, por exemplo, não cabe o adultério, e não cabe a questão da poligamia. Vemos nisso como a Igreja valoriza a mulher: na Antiguidade, a poligamia era uma coisa tomada como algo comum. Imagine: você vai casar, mas você não vai casar com uma mulher; você vai casar com uma, duas, três, quatro, cinco. Como é que você mulher iria se sentir? Que você não é bom o suficiente, que você não tem o valor suficiente para uma entrega total de um homem. E o que o Cristianismo faz? Hoje o que se fala é que a Igreja discrimina a mulher e tal, mas vamos estudar um pouquinho história e vamos comparar como era a vida da mulher antes do Cristianismo e como é que é a vida da mulher depois. Não existe maior valorização em uma sociedade que era machista, na Antiguidade, do que a monogamia. Pois na monogamia, a mulher deixa de ser objeto, ela tem a entrega total de um homem. Isso é Cristianismo, isso é Teologia do corpo; é um um amor livre, fiel, total, como é o amor de Cristo pela Igreja. Por isso São Paulo nos fala: “maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela.”
Quando falamos deste amor fecundo, talvez nós pensemos: “ah, um celibatário não vive esse amor fecundo.” Vamos olhar para o Pe. Paulo Ricardo: alguém tem dúvidas de que o apostolado que o Padre Paulo Ricardo faz é um apostolado fecundo? Alguém tem dúvidas da multidão de filhos e filhas que o Padre Paulo Ricardo tem por esse Brasil? Eu sou um deles, por isso eu sou suspeito pra falar dele. Um padre, um sacerdote, também é chamado a ser fecundo.
Uma irmã, uma religiosa, também é chamada a ser fecunda. E cada vez que durante o seu ciclo biológico no mês, uma celibatária que tiver passando por aqueles dias que todas vocês “adoram”, o que que o corpo dela vai estar dizendo pra ela, para a celibatária? O que o corpo dela vai estar dizendo para ela? Que ela é chamada a ser fecunda, a ser mãe, mesmo sendo celibatária.
Sabe por que? Porque a maior maternidade e a maior paternidade não é a maternidade e a paternidade biológica, mas é a maternidade e a paternidade espiritual. Essa é a maior de todas. Então, todo ser humano é chamado a ser como Deus:  é chamado a amar, é chamado a se gastar por amor, e é chamado a ser fecundo. Nesse amor livre, fiel, total, fecundo que Cristo tem pela Igreja.

9. O Banquete Nupcial do Cordeiro
Nós falamos até da aqui da imagem ou da realidae? Da realidade. Agora, vamo falar da realidade mais perfeita, que é a realidade.
No final da Bíblia, nas últimas páginas da Bíblia, nós vamos ver essa luz que o Papa João Paulo II nos dá sobre o corpo, no Capítulo 21 do Apocalipse, versículo 2.
Quem é essa cidade santa? Quem é esta Nova Jerusalém, Preparada como uma esposa ornada para o Esposo? É a Igreja. Estão vendo a realidade? O casamento entre o homem e a mulher na terra é a imagem.  Isso é a realidade. A realidade mais perfeita, a realidade mais gloriosa, é o casamento entre Cristo e a Igreja. 
Vamos a Apocalipse 19, 7. Quem é o Cordeiro?  Quem é Aquele que se deu em Sacrifício? Que nos salvou o com Seu Sangue? Cristo.
Então, é o Cristo que se entrega para a Igreja, e a Igreja que se prepara, como Esposa, para se unir o com Cristo-Esposo.
Está em Apocalipse 19, 7: “Aproximam-se as núpcias do cordeiro. Sua esposa, a Igreja, está preparada”. E bem no final da Bíblia, em Ap 22, 17, fala da Igreja, essa noiva que espera ansiosamente pelo Esposo, e diz “Vem”. E o que o Cristo Esposo responde pra ela, no versículo 20? “Sim, eis que venho depressa”.
A Igreja esposa diz: “Vem”. O Cristo esposo diz: “Sim, eis que venho depressa.”  Estão vendo o diálogo a Igreja e Cristo?  Esse é o diálogo entre a Igreja Esposa e o Cristo Esposo. Estas são as Núpcias do Cordeiro, nesse grande casamento que vai acontecer no final dos tempos entre Cristo e a Igreja.
Que isso tem a ver com a Liturgia? Nós não íamos falar de Bento XVI e de Liturgia neste encontro? O que João Paulo II e a Teologia do Corpo tem a ver com Liturgia?
Vamos um pouquinho mais fundo ainda no raciocínio: será que a Liturgia é só preparação? Ou será que a Liturgia é uma antecipação verdadeira do casamento?
O Missal permite várias formas diferentes, quando o sacerdote fala durante a apresentação do Corpo de Deus na Missa. Uma das expressões possíveis segundo o Missal antes da comunhão, ele apresenta o Corpo de Deus e diz: “Felizes os convidados para o banquete nupcial do Cordeiro.” O que é o Banquete Nupcial do Cordeiro? É a Eucaristia.  A Eucaristia é o Banquete Nupcial do Cordeiro, porque a Eucaristia antecipa o Casamento entre Cristo e a Igreja que vai acontecer no Céu.
Ao mesmo tempo, a Eucaristia renova o sacrifício da Cruz. Qual é o leito nupcial do Cordeiro? Onde é que se dá a entrega do Corpo Dele pra Sua Esposa? É na Cruz! A Cruz é o leito nupcial do Cordeiro. É na Cruz que o Cristo esposo ama a Sua esposa, e é na Cruz que o Cristo esposo se entrega a Sua esposa. Então, a Eucaristia renova o Sacrifício, a entrega de Jesus na Cruz, e antecipa o Casamento, o Banquete Nupcial do Cordeiro que vai acontecer no Céu.
Vamos lembrar da questão da imagem e da realidade.  O que acontece no casamento (pelo menos, é para acontecer dentro do casamento...)? A união carnal entre o homem e a mulher. E esta que união que acontece, é só espiritual? Não, é uma união carnal, é uma união física. Deixa eu ser bem concreto aqui: se nós olharmos uma imagem de uma relação sexual, é como se fosse um só corpo. Imagine, por um segundo; não mais do que isso pra não pecar: olhando uma relação sexual, é um só corpo visualmente, fisicamente.
E como é a entrega de Cristo pra Igreja na Eucaristia? Será que a Eucaristia é só um símbolo? Será que a Eucaristia é só algo espiritual? A Eucaristia é a presença real em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Tão real como você está sentindo o teu corpo, tocando no teu corpo agora.
Então, da mesma forma que a imagem da relação sexual entre o homem e a mulher, se torna um só corpo porque é uma união corporal, a união eucarística, já antecipando aqui na terra o Banquete do Cordeiro no Sacrifício da Missa é uma união carnal, é uma união corpórea.
Por quê? Porque é o Corpo de Cristo, que na Missa, se une com o corpo de Sua Esposa, que é a Igreja.
Estão vendo que forma maravilhosa de falar da Missa, da Eucaristia? Estão vendo como que a Teologia do Corpo veio como uma bomba no nosso tempo, para poder mostrar que aquilo que a Igreja crê é muito mais do que simples sentenças doutrinais?
É claro que nós cremos na Doutrina, é claro que a Doutrina da Igreja expressa uma Verdade que não muda, e por isso que a Doutrina da Igreja não muda. Mas como o Papa Bento XVI falou, no início do Cristianismo existe um acontecimento, uma pessoa, é uma realidade espiritual, uma realidade maravilhosa que vai muito além de um papel: é a realidade dessa união esponsal, desse Banquete Nupcial entre Cristo e a Igreja, que vai acontecer no Céu, mas que é antecipado aqui na terra pela Liturgia.

10. Nosso lugar é o Céu
Geralmente quando nós falamos nessa realidade de afetividade, de casamento, há algo que mexe um pouco com todos nós. Mesmo com quem é celibatário. Porque o celibatário é chamado a viver um casamento real também. E mesmo no coração do celibatário há aquela falta de fé que bate: “Eu podia ter casado e não casei.” O celibatário optou por um bem maior, mas sempre há aquela coisa no fundo do coração dele: “Eu podia ter seguido outro caminho, mas segui esse”. Então, falar de casamento, falar de afetividade é algo que mexe com todos, e que com certeza é algo que mexe conosco.
Talvez seja uma surpresa estarmos falando disso. Não sei se a idéia inicial seria que nós estivéssemos falando das rubricas da Instrução Geral do Missal Romano. Talvez surpreenda um pouco começar um retiro sobre Liturgia falando de Matrimônio. Talvez nós fiquemos pensando: por que começar assim? 
O que mexe com cada um de nós falar nisso?  Eu convido que você possa olhar para esse grande matrimônio místico entre Cristo e a Igreja, e olhar para imagem desse matrimônio que é o casamento na terra.
Pensa no que mexeu com você quando falamos disso. Deixa eu ser mais ousado:  pensa no que Deus quis te sacudir falando sobre isso nesta manhã. Onde é que Deus quis chegar? O que Deus quis mexer? O que Deus quis tirar do lugar?
Esse aqui é um retiro de formação, mas não vai ser um retiro racionalista. A Igreja vive este equilíbrio perfeito entre a fé e a razão. Nem o fideísmo, nem o racionalismo. Por isso, este que aqui é um retiro de formação, também de formação intelectual, mas é um retiro também de oração, onde nós queremos nos encontrar com Deus.
Pense neste grande Banquete Nupcial entre Cristo e a Igreja, esse grande banquete nupcial que um dia vai acontecer de maneira plena no Céu. Eu não sei o quanto você tem pensado nas promessas de Deus, naquilo que nos espera no céu. Na nossa vida aqui na terra, alguns vivem pouco tempo, outros vivem mais tempo, outros vivem cem anos, outros cinquenta anos, outros morrem jovens, outros morrem ainda na barriga de sua mãe. Pense na nossa vida aqui na terra como se fosse um segundo, onde nós temos uma opção: ser de Deus, ou não ser de Deus; adorar Deus, ou não adorar Deus. A nossa vida verdadeira, a nossa vida eterna, a nossa vida plena vai ser no céu. Pensa um pouquinho no céu agora. E procura viver essa expectativa da Igreja que deseja o céu, da Igreja que espera o Céu, da Igreja que deseja a vinda do Seu Esposo. E coloca agora toda essa expectativa no seu coração, tudo o que te espera no céu, no Banquete Nupcial do Cordeiro, e adora.

Áudio da formação na íntegra:

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