Praça São Pedro

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Programa Viva em Verdade

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Teologia do Corpo e Liturgia - Parte1

Autor: Francisco Dockhorn
Colaborador do Viva em Verdade
Publicação Original: Nov 2010
Transcrição: Bethânia Bittencourt

1. O Tempo de Maria
Eu me sinto muito em casa estando aqui na Totus Mariae, não só porque eu acompanho um pouco a história desde o começo, pois a Maria Alice sempre foi me contando um pouco dessa história desses anos de comunidade. Quanto tempo tem a comunidade, Wilson? Três anos e meio.  Eu acompanhei um pouco da história da comunidade, mas não é só por isso que eu me sinto em casa estando aqui na Totus Mariae. É também pelo carisma mariano que tem essa comunidade, por graça de Deus.

A primeira vez que o Wilson foi em Porto Alegre conversávamos sobre isso, e uma das coisas que ele falava era que as obras de Maria crescem, mas são muito silenciosas,  às vezes pequenas, às vezes discretas.

Mas graças a Deus, temos estas obras de Maria, aqui na Totus Mariae, em Porto Alegre no Apostolado Reino da Virgem Mãe de Deus, no Cor Mariae em Cuiabá, na Fraternidade Arca de Maria do Padre Rodrigo Maria que hoje está em Recife. O Espírito Santo quando quer insistir em uma coisa repete até a gente se convencer.
Então, as obras de Maria, os frutos dessa grande obra da Virgem Maria no nosso tempo, tem se multiplicado, tem aparecido.

São Luis Maria de Montfort disse, e falou isso já no século XVIII, que nós estamos entrando no tempo de Maria. Esse tempo que a Igreja está vivendo agora e nós estamos vendo todos esses sinais, a multiplicação das aparições da Virgem Maria, a aproximação do cumprimento da promessa Dela em Fátima... Lembram qual foi a promessa Dela em Fátima? “Por fim, o meu Coração Imaculado triunfará”.

Então, nós hoje como Igreja, como essas obras marianas que o próprio Espírito Santo tem suscitado na Igreja, estamos sendo preparados pra isso.

2. Maria e a Eucaristia
Como eu dizia, quando eu estive há dois meses atrás no programa do prof. Felipe Aquino, Escola da Fé, tive a oportunidade de partilhar um pouquinho assim da minha história de vida, do meu relacionamento com a Virgem Maria.

Quanto mais marianos nós formos, mais eucarísticos nós vamos ser, porque a Virgem Maria é a Mãe da eucaristia, a Mãe do Santíssimo Sacramento, e a primeira que adorou Jesus na carne. Ela adorou Jesus na carne no ventre Dela, adorou Jesus na Carne durante a sua vida terrena quando cuidou de Jesus como mãe, quando amamentou Jesus, quando educou Jesus, quando ensinou Jesus a caminhar, quando ensinou Jesus a falar. Ela adorou Jesus na cruz, se entregando em sacrifício junto com o Filho; e adorou Jesus no sacramento, na Hóstia Consagrada.

Eu falava pra vocês de São Pedro Julião. Ele falava sobre isso, sobre a vida eucarística de Maria no cenáculo. Às vezes nós não nos lembramos muito desse detalhe mas Nossa Senhora também viveu uma vida eucarística, não só no Sacrifício Eucarístico da vida dela - e Eucaristia é Sacrifício! - e ela fez da sua vida Sacrifício, Eucaristia.  Mas não só: Ela viveu vida eucarística Dela adorando Jesus na Eucaristia, na Hóstia consagrada. Como nós, Ela também comungou.

O Papa João Paulo II, na sua Encíclica Ecclesia de Eucaristia, fala sobre isso. Ela também comungou, Ela também recebeu Jesus na Hóstia Consagrada. Ela comungou das mãos de São Pedro, de São João: são palavras do Papa João Paulo II na Ecclesia de Eucaristia.

Então qual é a grande obra que a Virgem Maria quer fazer em nós? É nos levar a adorar Jesus eucarístico. Mãe e Filho não brigam! As vezes ficamos neste escrúpulo. Quem é que já leu o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem aqui”? São Luis fala na lista dos tipos de falsos devotos da Virgem Maria que existem. Um desses tipos são os devotos escrupulosos.  Quem são esses devotos? São aqueles que receiam desonrar o Filho por honrar demais a Mãe. E o que São Luis Maria Montfort fala? Que isso é uma bobagem. Mãe e Filho não brigam! O Filho não tem ciúme da Mãe, desde que o nosso fim último ao honrar a Virgem Maria seja honrar mais perfeitamente a Jesus. Sabe por que? Porque ela é a Obra mais Perfeita de Deus.

Nós temos aqui quase um museu de artes na sala de estar da Totus Mariae. Então, se eu chego, por exemplo, no quadro do Coração de Jesus; vamos supor que a Maria Alice, nos seus grandes dons de informática e também artísticos, pintou esse quadro; e eu digo: “Que quadro maravilhosos esse que você pintou, hein Maria Alice?!” Quem que eu estou elogiando? O quadro, a pintura? Ou a autora da obra? Eu estou homenageando a autora, a Maria Alice!  Então, quando nós veneramos a Virgem Maria, quando nós honramos a Virgem Maria, nós estamos honrando o Autor dessa Obra Prima da Criação.

Santo Afonso de Ligório diz assim: “Deus criou um paraíso pra Ele, e o chamou Maria”. E por graça, Deus deu esse paraíso também a nós. Nós também temos um paraíso, e o nome desse paraíso é Maria. Nós temos um jardim onde nós podemos habitar, que é o Jardim do Imaculado Coração da Virgem Maria, que é onde Deus habita. Então, Ele mesmo nos deu de presente esse céu que Ele criou, esse Paraíso que Ele criou pra Ele mesmo.

E o que que a Virgem Maria quer fazer em nós? Ela quer nos dá um coração que adore Jesus. Mãe e Filho não brigam. A maior alegria da Virgem Maria é quando nós nos colocamos diante de Jesus em adoração, porque nós estamos fazendo o mesmo que Ela.

Isso São Luis Maria Monfort fala no Tratado: que este é um dos efeitos da consagração a Virgem Maria. Isso também faz parte do carisma da Comunidade Totus Mariae, não é, Wilson? Faz parte do carisma do Cor Mariae. Nós lá em Cuiabá temos um grupo se preparando para, no dia 8 de dezembro, fazer a Consagração a Virgem Maria. Deus queira que um bom número de pessoas possam se consagrar.

E um dos efeitos dessa Consagração, que vocês também vivem aqui na Comunidade ou que estão se preparando pra viver, é que a Virgem Maria nos dá uma parte da fé Dela. Isso esá no “Tratado”, está nos “Efeitos da Consagração”.

Que fé é esta? A fé eucarística da Virgem Maria; a fé que leva a adorar Jesus.

3. Nosso corpo fala de Deus
Aqui eu já faço um pouco um link sobre o assunto desse encontro, dessas formações que nós estamos iniciando agora, que é a Liturgia da Igreja.

Mas antes de entrar no tema específico da Liturgia, eu queria pedir aqui licença para deixar não eu falar, mas deixar o Papa João Paulo II falar um pouquinho a respeito de um tema que daqui logo vai fazer vocês vão entender melhor porque que tudo isso tem a ver com Liturgia.

É o tema que está bombando na Igreja hoje. Parece ter sido uma bomba relógio  que o Papa João Paulo II deixou aqui na terra, antes de ir para o Céu há alguns anos atrás, e que estava preparada pra explodir alguns anos depois a morte dele. Mas uma bomba muito boa, uma bomba de amor, uma bomba de graça, que é a Teologia do corpo.

Esta Teologia do corpo se originou de várias catequeses que o Papa João Paulo II deu no final da década de 70, começo da década de 80. Então, a bomba-relógio está montada já faz tempo. Não tenho muitas dúvidas, depois que comecei a ler sobre a Teologia do Corpo, que o Papa João Paulo II vai ser não só um santo canonizado, mas vai ser doutor da Igreja, devido a Teologia do corpo. Minha opinião.

Mas resumindo em poucas palavras, como eu definiria essa Teologia do corpo? A grande idéia que o papa João Paulo II parte e que nos apresenta com a Teologia do corpo é a seguinte:  o corpo humano fala de Deus.

E aí se fala do Projeto de Deus para o homem, do projeto de Deus para a mulher, do projeto de Deus no matrimônio, e não só no matrimônio mas também na vida consagrada. O corpo fala de Deus.

4. Crise Pós-Conciliar
Por que é tão importante este insight do Papa João Paulo II? O Papa Bento XVI, antes mesmo de ser Papa, como cardeal Ratzinger, escreveu alguma coisa sobre isso: a teologia dos últimos séculos teve um pouco assim uma limitação: ela tendeu a reduzir a fé e a vida espiritual a uma série de conceitos.

Vou dar um exemplo. Vocês já ouviram falar no Tanquerey, autor do “Manual de Teologia Mística e Ascética”?

Não se assustem, porque eu não vou falar mal do Tanquerey. O Tanquerey escreveu um livro maravilhoso de Teologia Mística e Ascética, onde fala tudo sobre exorcismo, revelações particulares, a busca da santidade, a vida ascética...é maravilhoso.!

Mas por exemplo: pensa 5 segundos e imagina o teu colega mais “hippie”. Imaginou? Você está conversando com ele, você quer trazer ele pra fé, e aí você chega com o livro Tanquerey e diz: “Olha aqui, Manual de Teologia Mística e Ascética, lê!” O que vocês imaginam que o cara iria fazer com isso aí? No máximo, iria tirar um papel pra fazer um baseado!

É isso que estamos falando: colocar a fé, a vida espiritual e a Revelação de Deus, de uma forma que se resumam muito a conceitos teológicos - apesar desses conceitos conterem a Verdade da Igreja! - , é uma coisa que faz pouco sentido pro mundo de hoje. Tão entendendo onde eu quero chegar?

Inclusive o Papa, ainda enquanto cardeal Ratzinger, fala da crise pós-conciliar.

O que é que a crise pós-conciliar? É esse grande período de crise que a gente viu depois do Concílio vaticano II.

Muita gente coloca a culpa desta crise no próprio Concílio Vaticano II, e pensa: “Ah, a culpa é do Concílio; se não fosse o Concílio, a Igreja estava às mil maravilhas.” Mas não é essa a idéia que os Papas defendem.

A idéia que os Papas do nosso tempo defendem – aqui falamos do pensamento do Papa João Paulo II , do Papa Bento XVI e do Papa Paulo VI - é que a culpa não é do Concílio, mas da má interpretação do Concílio.

É aquilo que o Papa Bento XVI chama de a hermenêutica da ruptura.

Vamos pegar um exemplo para entendermos melhor: a Adoração Eucarística.

Será que são todas as paróquias de São Carlos que tem adoração eucarística? Vocês já ouviram - não no Brasil, no Brasil não tem nada disso, pois Brasil é tudo perfeito! -, em uma paróquia de Marte, onde o povo quer fazer adoração eucarística, e o padre chega o diz: “Não, isso é coisa de antes do Concílio.” Já ouviram alguma história parecida?

Esta é hermenêutica de ruptura que o Papa Bento XVI fala: se pega o Concílio e se diz que o Concílio disse algo que na verdade ele não disse.

Há pessoas que dizem que o Concílio aboliu a adoração eucarística, que o Concílio aboliu o latim...mas o Concílio nem falou nisso!

A questão do latim, por exemplo: o Concílio inclusive incentivou o uso do latim. O Concílio falou que há a possibilidade de se celebrar na língua de cada povo, mas incentivou a usar o latim.

Então, eu arrisco a dizer: 80% das coisas que vocês ouvem dizer que “o concílio falou”, o concílio não falou. Tem muita gente que nunca abriu na vida um documento do Concílio e tá dizendo que “o Concilio falou isso e aquilo”, e justificando não fazer adoração, justificando que “agora, na confissão, o confessionário é coisa do passado, o negócio agora é a absolvição comunitária”, e dizendo o concilio Vaticano II falou isso, quando o Concílio não falou nada disso. Esse é o problema: não o concílio, mas aquilo que estão fazendo do Concílio.

Mas o Papa Bento XVI vai mais longe: ele diz que a coisa antes do Concílio já não estava muito bem. Por que? Porque a situação não iria desmoronar dentro da Igreja de 8 pra 80 de uma hora pra outra. Por mais que houvessem, aparentemente, nos anos 50, um ensino católico na catequese, alguma coisa estava errada, diz o Papa. A coisa não iria ir de 8 pra 80 em período de 15 ou 20 anos. Então, por mais que o esqueleto estivesse católico, por mais que os livros de Teologia tivessem a doutrina católica, alguma coisa ali estava faltando, e aí é que está a tendência que o papa Bento XVI fala, de reduzir a fé a uma série de conceitos que fazem pouco sentido pros homens de nosso tempo.

O Papa Bento XVI fala que na origem da fé, não existe uma idéia, não existe uma ideologia, não existe uma doutrina, mas existe uma pessoa, que é Jesus. Isso quebra um pouco este intelectualismo.

Então, o Papa João Paulo II, quando fala da Teologia do Corpo, o que estamos fazendo? Estamos olhando pra nós mesmos, para o nosso próprio ser, para a nossa própria realidade. E aquilo que nós cremos por fé, aquilo que nós aprendemos no Catecismo da Igreja Católica, não é algo mais distante de nós; porque nós, olhando para nós, para o nosso corpo, para a nossa alma, para as nossas necessidades, nós encontramos um eco daquilo que a gente lê no Catecismo dentro de nós. A gente só precisa parar e olhar.

5. O Acontecimento João Paulo II
O Papa João Paulo II foi um grande acontecimento. Foi um Papa que defendeu a fé, que defendeu a Eucaristia, que foi referência em meio aos jovens. O velório do Papa João Paulo II foi muito maior do que qualquer evento de show que poderia ser realizado na Europa, ou nos EUA.  Uma multidão de jovens que foram atraídos ali, uma multidão de pessoas foram até o túmulo do Papa João Paulo II, e ali a gente nós vimos o acontecimento João Paulo II.

Eu gostaria que nós pudéssemos conversar um pouco a respeito do contexto histórico que o Papa Bento XVI assumiu a Igreja. Então não há como não falar também desse outro gigante, desse outro acontecimento, dessa outra luz que é o Papa João Paulo II.

Nós podemos olhar para essa passagem de um Papa para o outro, de um pontificado para o outro, e ver que Bento XVI está marcando o gol com a bola que o João Paulo II deixou quicando ali, que é a Teologia do Corpo.

A Teologia do Corpo é o assunto do momento, é aquilo que tá bombando na Igreja hoje. Faz cinco anos que o Papa João Paulo II deixou essa terra, e  graças a Deus, acreditamos que ele tá lá no Céu agora, intercedendo por nós. O Papa João Paulo II tá lá no Céu, olhando para esse grupinho de jovens, e está intercedendo, e dizendo: “Esses aí são meus, heim! Esses aí fazem parte dessa geração, onde eu deixei preparada a bomba-relógio pra explodir, chamada Teologia do Corpo”.

A idéia central da Teologia do corpo é a seguinte: o nosso corpo fala de Deus. Então, vocês irão ver a partir do que a gente vai falar aqui que a Teologia do corpo é uma nova visão.

Lembra que a gente estava falando da luz? A luz nos ensina a ver. João Paulo II é este acontecimento, é esta luz e que nos dá uma nova forma de enxergar a nossa fé inteira.

Vocês não se assustem quando eu digo uma “nova forma”, pois eu não estou aqui querendo ser um modernista, querendo ser um herege, dizendo que a fé católica muda, porque a fé católica não muda. Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre. Aquilo que a Igreja acreditava há dois mil anos atrás, tem que ser a mesma coisa que a Igreja acredita na Idade Média e daquilo que a Igreja acredita hoje. Se não, o que irá acontecer? Se a nossa fé for diferente daquilo que a Igreja acreditou em algum tempo, nós estamos nos afastando dessa grande tradição de dois mil anos e estamos fazendo uma fé segundo a nossa cabeça. É o que muita gente está fazendo hoje. Tem muita gente querendo inventar uma fé, o que não é o nosso caso, também não é o caso de João Paulo II. Quando estamos falando de uma nova visão daquilo que a Igreja crê, não é algo diferente do que a Igreja acreditou em outro tempo, mas algo que vai numa profundidade maior.

O que nós estamos falando não é em mudar aquilo que a Igreja acredita. Nós não estamos falando em mudar a fé, em mudar a Doutrina da Igreja, mas de uma nova visão daquilo que a Igreja já acreditava numa nova profundidade que não havia sido alcançada antes em algumas questões.

Este artigo compreenderá uma divisão em duas partes.

Veja também, Teologia do Corpo e Liturgia Parte 2: http://migre.me/5ue73

Áudio da palestra na íntegra:

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